“Minha história é mais comprida do que um dia de fome,
Pra superar o que passei tive que ser muito homem
Lutei e fui valente como todo sobrevivente do Sertão do Nordeste
Por que ao meu lado tive uma mulher que é pequena, mas atrevida,
Seu nome é Maria e conhecida como Gorete”
No dia 29/12/1957, eu nasci Valdemar Muniz, batizado pelos meus queridos pais, Antonio Vidinha, conhecido como “Godô Vidinha” e Galdina Muniz, uma mulher fora do seu tempo e a quem puxei no jeito de ser, mas fui famoso com a alcunha de “Nengo do Cariongo”. Fui um menino serelepe e ajudei muito minha família na roça, apesar de ter perdido meu pai muito cedo. Me lembro muito quando íamos fazer nossa Farinha na Casa do Forno que ficava na Pedreira na casa do Paulo de Evaristo, coisa que hoje em dia as Crianças nem sabem mais como é bom, ficávamos bem “perfumados” descascando as mandiocas, fazendo “Macaca” de farinha escaldada, no tempo em que a maldade humana ainda nem sondava nossa virgem região que agora foi maculada pelos reveses da cidade grande. Nesse tempo o maior medo que homem tinha era de ser pego pelo pai da moça que costumava ser levada de Casa.
Por conta de onde morávamos, e também pelas condições financeira, não pude fazer Faculdade, mas nunca fui burro e nem mesmo usei isso para me vitimizar, dar uma de coitadinho, pelo contrário, mesmo não tendo uma Educação formal fui muito Inteligente e usei muito bem os dons que recebi de Deus. Meu primeiro emprego foi consertando estradas para outros caminharem, coincidência ou não, eu aprendi a fazer meu próprio Caminho. Meu velho e companheiro irmão, João, me deu a oportunidade de trabalhar em sua oficina e daí pra frente fiz igual um carretel, fui desenrolando e só parei por força de Deus. Aprendi a trabalhar com maquinas pesadas e acabei fazendo, anos mais tardes, o curso de Mecânico Geral pelo Instituto Universal Brasileiro, mais precisamente na década de 80, pois como não nasci com o bumbum virado pra lua, tive que mexer meus pauzinho se quisesse ser alguém na vida.
Quando passou a adolescência, tive que sair a “Caça”. Sempre gostei de festas e diversão, o que os jovens de hoje chamam de “balada”, na minha época era muito melhor. Como tinha um bom papo, uma boa lábia, era certo que pelo menos uma namorada eu tinha nas festas e festejos dos interiores.
[caption id="attachment_4320" align="aligncenter" width="750"] Nengo do Cariongo[/caption]
Em uma dessas minhas “caçadas”, acabei sendo alvejado com um tiro certeiro e fatal, não resistir e veio a óbito minha “vidinha de balada”. Voltando as origens de onde eu nasci no povoado “Vaca Morta”, festejo de Santa Luzia, vi uma jovem morena de pele branca e cabelos cacheados, foi quando pensei que seria mais uma “vítima” do garanhão que era acostumado a pastar sozinho, acabei me apaixonando. Eu tinha achado a tampa da minha panela, meu pé descalço encontrou sua “percata”, foi paixão à primeira vista. Mas não foi fácil ter uma vida com minha Maria e para isso acontecer tivemos que fugir para vivermos nossa história de amor, pois seus pais eram contra nosso relacionamento (Em uma outra oportunidade contarei como fizemos para viver nossa história de Amor).
Até hoje não descobri se foi feitiço que ela usou para me prender. Ela conseguiu colocar as rédeas em mim e dali em diante saímos cortando o vento em uma estrada que, sem ela, não teria trilhado sozinho. Com Maria formei minha família, meus 5 filhos, Netos e amigos que consegui juntar pelo caminho.
Sem a minha família talvez eu não teria sido o que fui, minha história não teria o brilho que tem, pois, o tempo pode nos tirar do mundo, mas nunca da história e enquanto tiver vida na terra e memoria nos homens, eu serei lembrado graças a minha família. Apesar de não ter conhecido todos os meus Netos, não posso deixar de mencionar o meu “Cabocão”, que agora já está um rapaz, a quem tinha um apego incondicional. Só tenho a agradecer pela bela família que Deus me emprestou para me fazer feliz.
Mesmo casado, pai e avô sempre fui uma pessoa livre de espirito para realizar meus sonhos e minhas atividades. Desde criança fui amante do velho e bom futebol e quando cabra velho não me separei dele, deixava comida no prato quando um outro desocupado gritava que ia ter pelada, nem que fosse pra jogar na piçarra. “Verme é verme...” Kkkkkk
“Vi meu Flamengo ser o melhor do Mundo em 81, chorei suas derrotas como qualquer um e não importa o que dirão, 87 é do nosso Mengão”
[caption id="attachment_4319" align="aligncenter" width="1000"] Nengo do Cariongo e seu Irmão João[/caption]
Na terra procurei ser o melhor Cristão e lutar pelas causas, e pessoas, que sempre defendi. Mesmo não sendo consagrado a ministro pela igreja, sempre era procurado para fazer as celebrações quando faltava o Padre ou outra pessoa responsável como minha querida e nobre Amiga Almerinda. A igreja sempre foi muito presente na vida de nossa sociedade santarritense e por diversas vezes teve um papel crucial em situações de extrema necessidade. E, em uma dessas acabei por conhecer uma pessoa que veio mais tarde se candidatar ao cargo de Deputada Estadual pelo Maranhão, Helena Heluy, fui assessor dela nos assuntos que correspondiam as demandas de nossa cidade, já que sempre ajudei a comunidade, por iniciativa própria e sem pedir favores em troca.
Ao lado de minha amiga Almerinda, lutamos pela construção da Capela de N. S. da Conceição, na comunidade da Rua do Sol, mesmo eu sendo devoto de São Sebastião. Com meu amigo, Cesar Roberto, promovemos Serestas pela cidade para juntar alguns trocados e concluir os trabalhos. Com Cesar, ainda formamos um grupo musical chamado Anjos do Nordeste e mesmo não tendo decolado como pretendíamos, fiz com o coração.
Uma das obras literárias que tive a honra de produzir foi sobre a vida de meu amigo, Felício, que não se importou quando, por maldade, o apelidaram de “macaco do padre”. Tive ainda o prazer de gravar minhas músicas em um único CD. Tem ainda uma bela Canção que fiz em homenagem a minha querida Santa Rita e seus povoados, talvez alguém a grave um dia.
Ainda tenho muita coisa para relatar sobre tudo que vivi e fiz enquanto Deus me permitiu viver sobre a terra e que talvez algum dia possa relata-los. Aqui me despeço com uma frase de José Bonifácio, tutor de Dom Pedro II: “Só morrem os homens vulgares e não os heróis, eles vivem eternamente na memória ao menos dos homens de bem presentes e vindouros e sua alma imortal vive no Céu ”
[caption id="attachment_4318" align="aligncenter" width="1000"] Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4317" align="aligncenter" width="4096"] Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4316" align="aligncenter" width="1000"] Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4325" align="aligncenter" width="1024"] Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4324" align="aligncenter" width="1000"] Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4323" align="aligncenter" width="1000"] Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4322" align="aligncenter" width="1000"] Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4321" align="aligncenter" width="1024"] Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4329" align="aligncenter" width="2401"] Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4327" align="aligncenter" width="2047"] Livro de Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4330" align="aligncenter" width="3731"] Certificado de Nengo do Cariongo[/caption]
[caption id="attachment_4328" align="aligncenter" width="2213"] Música não Gravada de Nengo[/caption]
*Esta é uma pequena obra realizada com Base em relatos da Vida de Valdemar Muniz - Nengo do Cariongo
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