Fernando Atallaia sabe que o bom poema é obra rara e já não luta contra isto. Luta com isso, o que é bem diferente e instaura a sua diferença. Seu conteúdo vem da vida e a forma de dizê-lo nasce de uma estranha mistura do que já foi poetado e de uma fala nova, original. Atallaia não desiste dela. Quem lê  “Ode Triste para Amores Inacabados” sente a pegada. Um Pessoa aqui na filosofia de um Caeiro sorumbático, um Drummond ali na persona humorada e expressiva do próprio Fernando. Mas o leque vem dos séculos: é possível voltar e topar com a angústia sensual de um Cruz e Souza que não sossega enquanto o desejo não vira imagem aberta. Ou avançar e encontrar a eficácia de uma Hilda Hilst além da genealogia de qualquer moral. Não é moral, tampouco preceito, prescrição, filosofia. É canção dizendo, poema cantando; logo, já não é isto ou aquilo.

Fernando Atallaia oferece poesia, a sua poesia, esta que veio da música e, depurada pela vida, tenta reencontrá-la. ‘’Poesia que busca seus compêndios em ruas inexistentes’’, mas topa o barulho de encontros e desencontros para encontrar o próprio silêncio: ‘’Toda a poesia tem o seu silêncio’’, canta-nos Fernando. Entre temas que vão de dentro do próprio poema ao pátio dele em busca do amor entorno, o conteúdo não esconde a verve amorosa, erótica. Todavia, o resultado temático importa menos. Sem pressa para encontrar o seu serralho nem ânsia para sentir a parte que lhe cabe neste  latifúndio, Fernando Atallaia não briga com a imperfeição e a incompletude. Sua ode, embora triste e inacabada, ama assim mesmo. Ama o que dá. Ama o que pode. Ama de muletas.

O sentido agora já não manda mais. A poesia de Atallaia é leitora da poesia do mundo, mas corre pelas mãos pessoais do músico. Veio da melodia e a ela volta para transcender o próprio assunto. Basta folhear, escutando.

Celso Gutfreind Nasceu em Porto Alegre, em 1963. Tem  26 livros publicados, entre poesia e histórias infantis. Textos traduzidos para o espanhol, francês e inglês. Foi escritor convidado da Ledig House, em Omi (EUA), em 1996. Colabora na imprensa, assiduamente, sobretudo com crônicas.  

Como médico e psicanalista, Gutfreind especializou-se em Medicina Geral Comunitária (Hospital Nossa Senhora da Conceição), Psiquiatria (Fundação Mário Martins e Associação Brasileira de Psiquiatria) e Psiquiatria Infantil (Universidade Paris V). Realizou na França doutorado em Psicologia Clínica (Universidade Paris XIII) e pós-doutorado em Psiquiatria Infantil, no grupo hospitalar Pitié-Salpetrière, da Universidade Paris VI. 

Atualmente, é professor da Faculdade de Medicina e do mestrado de Saúde Coletiva da ULBRA e da Fundação Universitária Mário Martins.


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